domingo, 28 de agosto de 2016

O CRISTÃO E A ORAÇÃO



Parte 1: Introdução
Salmo 65:2

A oração é um dos temas mais complexos do ensino cristão. Cada seguimento do cristianismo possui as suas formas de buscar a Deus, de orar. No catolicismo romano, por exemplo, pratica-se a oração pelos mortos. O cristianismo protestante aboliu essa prática por entender que não é bíblica. São muitas as teorias que explicam o que é a oração e que demonstram como o cristão deve orar, quais os benefícios da oração e que tipo de oração surte maior efeito diante de Deus. Existem orações já prontas, rezadas de forma repetitiva; e existem orações que são verdadeiros diálogos com Deus. Algumas, porém, parecem monólogos, onde apenas o cristão fala e Deus só escuta. Existe oração de fogo, oração de poder, oração ungida. Algumas orações desejam atrair bênçãos, outras expulsar os demônios. Alguns oram baixo, enquanto outros gritam a plenos pulmões. Alguns usam palavras simples e diretas, enquanto outros transformam a oração num tratado de teologia, citando diversos versículos e explicando cada um enquanto fala com Deus. Ao orar, alguns buscam diretamente a Deus, por meio de Cristo, enquanto outros suplicam pela intercessão dos santos. Vemos como este é um tema bastante complexo e que dependerá do nosso cuidado em compreender o que a Bíblia tem a nos ensinar, independente das doutrinas humanas. A oração é, acima de tudo, um ato de gratidão. Quando nos aproximamos de Deus, reconhecemos quem Ele é, o que tem feito e o que ainda poderá fazer por nós. Mas não é só isso: a verdadeira oração busca a Deus não para obter respostas, mas simplesmente porque Ele é Deus e merece o nosso louvor e a nossa adoração. Se pararmos para pensar, já temos o suficiente para transformarmos a nossa oração em um eterno momento de agradecimento, a começar pela salvação que Ele nos deu. Aprendamos, então, um pouco mais sobre a oração cristã.


Parte 2: O que é oração?
Isaías 56:7

A primeira lição que devemos aprender sobre oração é que Deus não precisa da nossa fé e das nossas súplicas para operar qualquer tipo de obra no mundo. Tudo Ele faz desde o início sem o nosso consentimento e independente da nossa vontade. Ele é soberano. A oração é nossa resposta ao Deus que se revela a nós e o reconhecimento da nossa dependência dele. Deus pode realizar o impossível sem a nossa intercessão, mas espera que o busquemos para que demonstremos que precisamos dele. Oração é muito mais que uma conversa, ela é um momento de comunhão com Deus restabelecida por Cristo na cruz. Sem esta comunhão não poderíamos nos aproximar dele (Is 59:2). Orar não é rezar, não é repetir fórmulas pré-estabelecidas, mas manter um diálogo aberto e sincero com Deus (Dt 5:24; I Sm 3:10), onde Cristo é o canal que nos liga a Ele. Orar também é uma ordem, embora não devamos orar apenas por cumprir um mandamento, mas pelo prazer de conversar com Deus (Lc 18:1; I Sm 12:23). A oração do crente não é algo esporádico, que ele faz quando dá vontade ou quando necessita de algo, mas deve se tornar uma prática constante (I Ts 5:17). É preciso investir tempo de qualidade nessa comunhão abençoada com o Pai. Oração também é fortalecimento (Ef 3:14-21; Tg 5:13-16). Aliado à leitura da Bíblia, o diálogo com Deus nos esvazia de nós mesmos e nos enche de graça, dando-nos forças para enfrentar os revezes diários. Uma vida de oração se transforma em arma contra Satanás (Mt 17:21). Quando o crente ora segundo a vontade de Deus, o diabo treme. Oração é, também, um canal de benções. Deus tem prazer em nos abençoar, em derramar sobre nós coisas boas (1 Jo 5:14,15). Mas nada devemos exigir, apenas pedir em Nome de Jesus e que seja feito segundo a sua vontade. Orar precisa ser como o ar que respiramos e o chão que pisamos.


Parte 3: Como devemos orar?
Mateus 5:23,24

Quando nos indagamos sobre a forma correta de oração, podemos pensar na estética da oração ou na nossa posição física ao orar: sentado, ajoelhado, de pé, prostrado, etc. Todavia, o que mais importa na oração não são as suas formas exteriores, mas o seu conteúdo espiritual. Como devemos orar então? Em primeiro lugar é preciso ter fé em Deus e confiança na sua resposta (Hb 11:1,6). Impossível haver oração verdadeira se não for acompanhada de fé. É preciso sempre pedir em Nome de Jesus (Jo 14:13), com pureza de coração (Mt 5:8) e reconhecendo a nossa dependência de Deu (Sl 23). Se não reconhecermos essa dependência, Ele jamais será o centro da oração (Sl 25:1). Se Deus é o centro a nossa oração será segundo a sua vontade (1 Jo 5:14). Não devemos exigir nada de Deus nem decretar coisa alguma, mas manter espírito de humildade (Lc 18:9-14). A nossa oração deve ser o mover do Espírito em nós (Jd 20,21; Rm 8:26), direcionando-nos com amor altruísta na direção das necessidades dos outros (1Pe 2:17). Ela não é somente vertical, mas igualmente horizontal. A oração deve ser, também, precedida de arrependimento (Mt 6:12). Se não nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados, a nossa oração será vã. Devemos orar, ainda, confiando em Deus (Sl 37:5 ; Fp 4:6 ; Sl 55:22) e apropriando-se das suas promessas (Sl 37 ; Rm 10:9; Nm 23:19 ; Ef 3:20), lendo a Bíblia e avaliando quais promessas são para nós de fato. Por fim, devemos orar ouvindo a voz de Deus (Dt 13:14; Ez 3:27; Jo 8:47; Tg 1:22). Onde? Na Bíblia. A oração deve sempre nos direcionar à Palavra. Orar não é “sentir” Deus falar, mas conversar com Ele e depois escutá-lo na sua Revelação específica: as Sagradas Escrituras. Quando o nosso eu sair de cena, saberemos ouvir a voz suave do Senhor. Que a nossa mente e no nosso coração estejam sempre abertos para receber Deus em nós.


Parte 4: As relevâncias na oração
Salmo 26:2

Existem alguns fatores relevantes que precisamos saber para orar da maneira correta e termos a certeza de estarmos orando segundo a vontade de Deus. Em primeiro lugar, é preciso ter certeza da aceitação de Deus(Is 6:5-7). Mesmo sendo pecadores miseráveis, em Cristo somos aceitos por Deus por sua maravilhosa graça. Entendendo isso e sabendo que Deus sonda os corações, precisamos ter uma transparência total do nosso ser, rasgar nosso coração diante de Deus e reconhecer quem somos (Sl 139:1,2). Não adianta tentar fingir nada quando nos colocamos diante do Pai. Outro fator relevante é a revelação de nossas necessidades (Fp 4:6). Quando pensamos em pedir, Deus já tem a resposta para nos dar, mas deseja que peçamos, que nos submetamos à sua vontade. Na oração, também, é de extrema importância um coração aberto para Deus (Mc 12:30): aberto para dar e para receber, para falar e para ouvir, para ser trabalhado e transformado; aberto para o sim e para o não. Ainda outro fator relevante é a ausência de sentimentos contrários à justiça (1 Jo 4:20). Tais sentimentos só produzem orações egoístas, impedem que nos reconciliemos com alguém e nos levam a desejar a vingança de Deus ao invés de clamar por sua misericórdia. O reconhecimento do pecado também é fator decisivo para quem busca a face de Deus. Ele sabe da nossa condição, não adianta esconder. Orando, precisamos ser sinceros e pedir perdão (1 Jo 5:18) O desinteresse pelo mundo também deve acompanhar a nossa oração, levando-nos a nos desprender do materialismo para buscar as coisas do alto (1 Jo 2:15). Por fim, a oração verdadeira parte de um coração fiel a Deus (Rm 3:3,4). Se formos infiéis, Ele permanece fiel, mas fomos salvos para sermos fiéis a Ele, à sua Palavra, à sua vontade. Que a nossa oração seja o reflexo de um coração fiel, obediente e submisso a Deus e à sua obra.


Parte 5: Vários aspectos da oração
1 Samuel 12:23

A oração é algo bastante pessoal, um diálogo íntimo com Deus, mas ainda assim possui alguns aspectos gerais que precisam ser observados. Esses aspectos estão presentes nas orações descritas na Bíblia e demonstram a forma como homens de Deus se dirigiam ao Pai. Moisés e os profetas foram grandes homens de oração, que estavam constantemente buscando a face de Deus, sua direção, seu favor. Jesus orava constantemente. Em varias de suas epístolas o apóstolo Paulo comenta sobre a sua oração pelos cristãos. O primeiro aspecto é a ação de graças (1 Ts 5:18). Ao nos aproximarmos de Deus, precisamos ter o coração agradecido por todas as suas obras, não somente pelo que Ele tem feito, mas por tudo aquilo que Ele é. Outro aspecto é o louvor (Tg 5:13). Deus é digno de ser louvado por seu amor, sua misericórdia, sua graça, sua salvação. Nós o louvamos porque reconhecemos o quão grande Ele é. A súplica e a petição também são aspectos importantes (Tg 5:16). Quando suplicamos algo a Deus, quando colocamos diante dele nossas petições, reconhecemo-lo como único que pode nos atender e decretamos a nossa submissão a Ele. Somos estimulados a pedir (Lc 11:5-13). Ao orar, somos também intercessores. A intercessão é um aspecto importante da oração, pois é quando clamamos a Deus pela vida de outras pessoas, como familiares, amigos, a igreja, os missionários, o nosso país, os pobres, etc. Intercessão é sinônimo de amor, um sinal de que nos importamos com os outros e os amamos (2 Ts 3:1-5). Além de orar, precisamos vigiar (Mt 26:41), estar atentos às tentações e às investidas do diabo. O simples fato de orar não nos isenta de certas situações, mas é preciso viver no Espírito, em santidade. Oração e ação são duas coisas que andam juntas. A vida nos impele a orar e a oração nos impele a viver e transformar a vida.


Parte 6: O que há numa oração bem sucedida?
Salmo 51:17

O conceito de oração varia de acordo com a ideia que se tem de Deus e da sua Palavra. Isso também definirá as regras para medir o sucesso de uma oração. Nas igrejas neopentecostais que pregam a Teologia da Prosperidade, uma oração bem sucedida é aquela oração de fogo, onde o crente dizimista fiel decreta as bênçãos que deseja e toma posse das promessas de Deus, exigindo seus direitos às conquistas de Jesus na cruz. A teologia ortodoxa e tradicional, todavia, anda de acordo com a Palavra de Deus. Podemos destacar algumas marcas de uma oração bem sucedida, que chega até o céu e toca o coração de Deus, o que não necessariamente significa  que ela seja atendida conforme imaginamos. A primeira marca é o quebrantamento total do nosso ser, desnudando-nos diante de Deus com humildade no reconhecimento da nossa incapacidade de agradá-lo (2 Cr 7:14). Um coração quebrantado Deus não rejeita (Sl 34:18). Um coração quebrantado é sincero, não se deixa levar pelo orgulho nem se recusa a receber a correção (Jr 29;13). Outra marca importante é o exercício da fé (Mc 11:24), o que envolve muito mais que crer e confiar, mas nos leva a viver uma vida prática, coerente com a fé que professamos. Essa fé nos leva à marca da obediência (1 Jo 3:22). Um coração obstinado não é aceito por Deus. Como oraremos se permanecemos nos mesmos erros sem reconhecê-los? Então é necessária a marca da vida reta (Hb 10:22). Não podemos orar de Deus com as mãos sujas, a não ser para reconhecer a nossa sujeira e pedir perdão. Precisamos desenvolver a nossa santidade. Ainda outra marca é o perdão. Uma oração uma oração bem sucedida vem acompanhada do perdão. Sem perdão não há oração (Mc 11:25,26). O sucesso da nossa oração está na nossa vida santa diante de Deus e na submissão à sua vontade.


Parte 7: Fatores importantes na oração
Atos 12:5

Existem fatores que não possuem tanta importância quando oramos. O local da oração, a roupa que se está vestindo, a formalidade nas palavras, o nível da oratória, a posição física, o tom da voz. Todos esses são fatores externos que em nada influenciam na oração, porque ela é algo que flui de dentro para fora. Não podemos ser desrespeitosos contra Deus nem atrapalhar a vida das pessoas quando oramos, mas o que importa mesmo é que a nossa oração contenha verdade. Podemos listar três fatores importantes à nossa vida de oração. O primeiro é a persistência. Devemos literalmente “incomodar” a Deus como ensina Jesus em Lucas 18:1-8. Algumas pessoas desistem de orar tão logo achem que a resposta está demorando a chegar. Todavia, independente da resposta, devemos persistir, até que Deus nos mande parar. Oração é luta! Outro fator é a objetividade. Embora Deus saiba bem do que precisamos e o que iremos pedir, é interessante que sejamos bastante específicos naquilo que queremos (Lc 11:9-13). Isto não significa determinar o que, como, quando e onde Deus irá nos abençoar, mas expor as nossas necessidades de forma sincera àquele que deseja nos dar coisas boas. O terceiro fator é a perseverança. Não devemos esmorecer nas nossas orações, esquecer ou desistir de orar. Esse é um diálogo que precisa ser constante, diário, ininterrupto. A perseverança demonstra a nossa dependência de Deus. Mesmo diante das tribulações, mesmo quando a resposta parece não vir, mesmo quando ouvimos um “não” enfático de Deus, precisamos perseverar. A oração deve ser um hábito, deve estar arraigada à nossa vida como a necessidade de alimento. Jesus orou até o último instante na cruz, clamando por misericórdia para os seus algozes. Ele sempre teve certeza de ser atendido e nos dá esta certeza, porque nos ama e cuida de nós. Ele é Deus!


Parte 8: Principais atitudes na oração
Lucas 18:9-14

O Senhor Jesus contou uma parábola envolvendo dois personagens: um era fariseu e o outro, publicano. Enquanto os fariseus eram considerados modelos de religiosidade, os publicanos eram desprezados e considerados corruptos. Estando a orar, o fariseu orava de si para si enquanto se gabava das suas boas ações; o publicano, porém, sequer ousava erguer a cabeça, mas apenas batia no peito e clamava pela misericórdia de Deus. Duas atitudes: uma incorreta e outra abençoada. Existem três atitudes que devem fazer parte da nossa oração. A primeira é vida. Ter vida significa estar em Cristo, a verdadeira vida. Mas também quer dizer viver a nossa fé de maneira prática e não apenas discursiva. Muitas pessoas parecem vivas, mas estão mortas em sua fé, pois não possuem obras (Tg 2:17). A segunda atitude é a ação. Orar não significa esperar que tudo caia do céu, mas envolve atitudes com relação àquilo que temos colocado diante de Deus. Sentar-se debaixo do alpendre, contemplar o campo e não plantar a semente nem regá-la, não trará a colheita. Oração e ação precisam caminhar juntas. A terceira atitude é a reflexão. A nossa vida de oração deve ser o reflexo de uma vida comprometida com Deus e com a sua palavra (Tg 1:22). Num outro sentido, devemos refletir sobre a nossa fé, as 18nossas atitudes e a essência daquilo que temos colocado diante de Deus. a nossa oração não pode vir carregada de hipocrisia e de soberba. Se não formos humildes, Deus não nos ouvirá. Jesus diz que o publicano saiu com a resposta da sua oração, saindo justificado para casa, enquanto o fariseu, não. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha, será exaltado. Quanto mais nos esvaziarmos de nós mesmos para nos enchermos de Deus, mais iremos agradá-lo e com mais fé oraremos. O que tem impedido que as nossas orações cheguem a Deus? Façamos o retorno para a estrada certa.


Parte 9: Quando nossas orações não são ouvidas?
Salmo 143:10

O Senhor Jesus nos ensinou a pedir com fé em seu Nome para sermos atendidos. Ele nos disse que quando batermos, a porta nos será aberta; quando pedirmos, receberemos; e quanto buscarmos, encontraremos. Tomando este ensino ao pé da letra e sem levar em conta o ensino geral das Escrituras, acreditaremos que basta crer, pedir e receberemos. Todavia, nem todas as nossas orações recebem uma resposta positiva de Deus, o que deve ser motivo de alegria e alívio para nós. Existem ao menos três razões para isso. Primeira: quando não pedimos conforme a vontade de Deus. Ele nos ouve se pedirmos alguma coisa conforme a sua vontade e não a nossa (1 Jo 5:14,15). A melhor maneira de saber se estamos orando segundo a vontade de Deus é conhecendo a sua Palavra e sempre colocarmos a frase “seja feita a vossa vontade” no final de cada oração. Segunda razão: quando pedimos mal (Tg 4:1-5). A motivação ao orar influencia no tipo de resposta que teremos de Deus. Ele conhece o nosso coração, nossos desejos, nossos pecados e sabe se aquilo que almejamos tem uma motivação santa ou egoísta. Se não for para a glória do seu Nome, Deus com certeza não nos atenderá naquilo que lhe pedimos. Isto nos leva à terceira razão: quando a oração não é sincera (Sl 24:4,5). Deus não ouve uma oração que não seja sincera, que diga algo contra a verdade, que esteja carregada de hipocrisia. Não podemos orar por perdão se não estamos arrependidos; por envolvimento na sua obra se não estamos dispostos; por provações se de fato não as desejamos. Por fim, a falta de fé no poder e na provisão de Deus afasta de nós os seus ouvidos (Tg 1:5-8). Como esperamos receber algo de Deus se não acreditamos que Ele possa nos dar? Sem fé as montanhas não se movem, a resposta não chega, a bênção não aparece. É preciso crer em Deus e desejar ardentemente a sua vontade.


Parte 10: Os obstáculos à oração
Provérbios 21:4

Por que nem sempre conseguimos manter uma vida constante de oração e acabamos passando dias sem orar, sem conversar com Deus? A falta de tempo e de oportunidade pode ser uma desculpa, as atividades diárias, os problemas a resolver. Existem, todavia, alguns motivos muito mais sérios e reais que nos afastam da intimidade com Deus. Podemos aqui citar alguns: ingratidão (Rm 1:21), Ídolos (Ez 14:1-11), desobediência à Palavra (Pv 28:9), orgulho (Jó 35:12,13), falta de perdão (Mt 5:21-26), vontade própria (Rm 12:2);  indiferença (Pv 1:24-28), pecado secreto (Sl 66:18,19); vida religiosa hipócrita (Is 1:10-17), dúvida da fidelidade de Deus (1 Co 1:9), avareza (Lucas 12:15)  Desinteresse (1 Ts 5;17), afastamento de Deus (Sl 73:27), egoísmo (Tg 4:3), falta de misericórdia (Pv 21:13), teimosia (Zc 7:8-13). Todos esses obstáculos também se apresentam no nosso envolvimento com o mundo e uma gama de ofertas que nos fazem não ter tempo para Deus. Passamos mais tempo na realidade virtual do que na verdade espiritual; gastamos mais tempo aproveitando as inovações dos jogos em rede do que criando uma rede de relacionamentos e de oração. Se não mantivermos o nosso foco no Reino dos céus, qualquer clamor da nossa carne ou demanda do mundo vai desviar-nos do alvo, que é o Senhor Jesus. Quanto mais cedo vencermos os nossos obstáculos pessoais, mais tempo de qualidade teremos com Deus. O que tem tirado o seu tempo de oração? Qualquer que seja o motivo, o resultado de uma vida aos pés da cruz te proporcionará momentos verdadeiramente significativos e te manterá firme espiritualmente. Deus deseja se relacionar conosco e nos dá a chance de um diálogo. Pensemos nisso: Deus quer conversar conosco e nos ouvir. Sejamos fiéis, quebremos todos os nossos ídolos, deixemos de lado a hipocrisia e a desobediência. Não existe lugar melhor que na presença de Deus.


Parte 11: Os inimigos do cristão e da sua oração
Mateus 6:13

A oração é ferramenta, arma, escudo. Quando oramos segundo a vontade de Deus, aquilo que Ele tem proposto para acontecer, acontecerá e não existe nada que possa impedir. Deus, mesmo sendo soberano e todo-poderoso, conta com as nossas orações, a nossa intercessão: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica dos justos” (Tg 5:16). A oração é algo tão significativo, que atrai inimigos. O diabo não sabe o que estamos pensando, mas percebe quando paramos para orar e entende que Deus agirá. Ele não quer isso e nos cerca por todos os lados a fim de minar a nossa comunhão com Deus (1 Pe 5:8; Ef 6:12-18). O sistema pecaminoso do mundo também tenta impedir as nossas orações, oferecendo-nos formas de desviar a nossa atenção para coisas irrelevantes (1 Jo 2:15). Quanto mais nos deixamos enredar pelo mundo, mas distantes ficamos do prazer de orar. Nós também, na nossa própria carne, nem sempre queremos orar, ficamos colocando empecilhos, inventado desculpas, criando barreiras para não orar. É uma luta constante, diária (Gl 5:17). As investidas de Satanás e as insinuações do mundo só podem causar dano à nossa vida se permitirmos, se não caminharmos em constante comunhão com Deus por meio da oração e da leitura da Palavra. Viver na dependência total do Espírito Santo nos faz compreender as coisas espirituais e nos dá a graça suficiente para dar uma resposta bíblia e santa a esses três inimigos. Não existe poder superior ao poder de Deus, a não ser a nossa decisão em desprezar este poder. Logo, quando mais submetidos ao Senhor, mais vitoriosos seremos nas nossas orações e oraremos com eficácia, porque saberemos ao certo o que o Senhor espera de nós. Que a nossa oração seja sempre a resposta de um coração quebrantado e desejoso da presença viva de Deus, por meio da prática da sua Palavra em cada instante da nossa vida.

Leia-Medite-Pratique: 2 Coríntios 7:10; 1 Co 7:3; 6:19; João 16:33; 1 João 5:4; Efésios 4:24; 6:16; 18:15; Hebreus 4;15; 12:1; Romanos 7:23; 8:13; 13:14; 5:13; 1:23; Colossenses 3:5; 1 Timóteo 6:11; Tiago 4:7.

Ação transformadora: Ore pelo desejo de orar cada vez mais.

Autor: Mizael de Souza Xavier


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

DAR PARA OFERTAR AINDA MAIS - A VERDADEIRA LEI DA SEMEADURA




Observação: Este texto faz parte do livro “A graça de ofertar: ofertando a Deus com alegria e liberalidade”, de minha autoria, ainda a publicar.

               O texto de 2 Coríntios 9:6 é um dos mais utilizados para falar das bênçãos dadas por Deus em retribuição às nossas ofertas. No momento do culto em que os dízimos e as ofertas serão recolhidos, após uma pregação de exaltação das bênçãos de Deus, o pastor cita esse texto e insiste que os fiéis devem ser bastante generosos nas suas contribuições se quiserem ser abençoados por Deus. Quanto mais ofertarem à igreja, mais bênçãos de Deus receberão. De modo inverso, quanto menor for a sua contribuição financeira, menores bênçãos chegarão. Quem quiser receber muito, muito deve dar, como prova da sua fé. Vê-se claramente o comércio das bênçãos de Deus, barganhadas a preço de dízimos e ofertas, que encherão os cofres das igrejas sem cumprir o papel social a que eles deveriam se propor.
            Entretanto, o que está em evidência nesse texto da segunda carta de Paulo aos cristãos de Corinto não é o dízimo ou a oferta como moedas de troca que se dá a Deus para que Ele libere as bênçãos desejadas e decretadas. Esse texto fala muito mais das riquezas espirituais envolvidas na contribuição amorosa da igreja aos cristãos necessitados. Vamos analisar alguns pontos importantes, partindo do v. 1, para entendermos todo o contexto em que Paulo escreve.
Em primeiro lugar, o que está em vista aqui não é o pensamento equivocado de que Deus só nos abençoará na medida em que pagarmos por isso com dízimos e ofertas. Esse pensamento está completamente ausente desse texto. Na verdade, Paulo está falando acerca da “administração que se faz a favor de todos os santos” (v. 1). A contribuição que é dada não é um dízimo nos moldes do Antigo Testamento nem se destina aos cofres da igreja, mas é uma contribuição aos irmãos necessitados. Algo muito importante nesse versículo é o objeto da contribuição: os santos. Não é aquele que contribui que recebe a bênção, mas aquele que é o objeto da contribuição.
No v. 5 Paulo diz que tal contribuição só será tida como uma bênção se for destituída de avareza. Por isso ele afirma: “Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará.” Essa contribuição não visa receber bênçãos, mas ofertar bênçãos preciosas para aqueles que delas necessitam. A contribuição deve ser generosa para haver retribuição. Ele, porém, não diz que o motivo da doação é o recebimento da retribuição, muito pelo contrário. Paulo condena a avareza, que é o amor ao dinheiro. Quem contribui o faz sem qualquer interesse pessoal. O interesse do contribuinte está no bem-estar daquele que receberá a sua oferta.
Essa contribuição não tem o seu valor estipulado, como um dízimo; nem deve causar tristeza em quem contribui, muito menos deve ser por necessidade, “porque Deus ama ao que dá com alegria” (v. 7). Jesus demonstrou na parábola da viúva pobre que o que importa não é a quantia que se dá, mas a motivação com que ela é ofertada. Percebe-se como isso funciona totalmente o inverso de “quanto mais eu der, mais receberei de volta.” Uma palavra que vale a pena ressaltar nesse versículo é “dar”. Quando damos algo a alguém não esperamos receber nada em troca, caso contrário nós não estaríamos doando, mas negociando. Esta contribuição é totalmente desinteressada e não visa lucro próprio.
Paulo, então, mostra duas consequências que abundam na vida daquele que contribui generosamente e com alegria para a obra do Senhor: abundância de graça e abundância de boas obras (v. 8). Aquele que semeia pouco (por avareza), jamais poderá superabundar em boas obras; ao contrário, aquele que semeia muito (com alegria), sempre abundará em toda a boa obra. O cristão deve ser um “ministro da graça”, levando ao mundo a graça que superabundou na sua vida. Ele não recebeu algo para enterrar no chão e esperar que o dono volte para reavê-lo. O que ele recebeu foi para multiplicar, não somente para si, mas, acima de tudo, para os outros.
O que está em vista claramente neste texto não é a bênção de dar para receber muito mais em troca, mas dar para contribuir cada vez mais. As consequências desse desprendimento financeiro em favor dos cristãos pobres são espirituais: “Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre” (v. 9). O cristão não retém as bênçãos somente para si, mas ele as espalha, dá aos pobres. Os frutos colhidos são os frutos da justiça que acompanharão para sempre o cristão de coração generoso. O v. 10 é enfático ao afirmar que o aumento não é o valor da conta bancária daquele que contribui, mas do seu desprendimento de sempre contribuir: “Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça.” Deus nos abençoa para que possamos abençoar; Ele nos enche cada vez mais para que possamos dar cada vez mais.
A consequência dessa contribuição generosa, além da graça de contribuir cada vez mais (v. 11), é o testemunho da igreja, que leva as pessoas a darem graças a Deus (vs. 11,12). Muitas igrejas só são conhecidas pelos seus templos suntuosos e pela forma como arrecadam dinheiro dos fiéis. Seus pastores acham que o testemunho deve ser de riqueza: quanto mais rica a igreja se mostrar, maior a unção dos pastores e maior o poder que opera nela e através dela. Mas a igreja não dá testemunho pelo que recebe, mas pelo tanto que abençoa as pessoas e a comunidade em que está inserida. Contribuir também mostra a submissão do cristão ao Evangelho e o uso correto dos dons que Deus distribuiu à igreja.
Quando Paulo diz que o que semeia muito, muito também colherá, algo que nos vem à mente é a forma como os cristãos contribuíam com a obra do Senhor nos primórdios da Igreja. Eles vendiam os seus bens e as suas propriedades e depositavam o dinheiro aos pés dos apóstolos, que eram os responsáveis por administrá-los como líderes da Igreja (At 2:44,45; 4:34,35). Essa distribuição dos bens de acordo com a necessidade que ia surgindo de cada um parece sugerir que as ofertas eram guardadas e depois distribuídas aos próprios ofertantes. Dessa forma, a lógica é que quanto menos contribuíssem, menos teriam no momento da necessidade. De modo contrário, quanto mais contribuíssem, mais teriam em depósito para o momento da precisão e todos poderiam ser bem mais abençoados nas suas necessidades.
Como pudemos ver, não há como utilizar esse texto de forma utilitarista para afirmar que quanto mais o cristão contribui com os dízimos e ofertas, mais bênçãos ele receberá de Deus. A ênfase da Palavra de Deus recai sempre sobre o dar, não sobre o receber: “Mais bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). Em certo sentido, ofertar na igreja é uma obrigação do cristão, mas que deve ser exercida sem nenhum pesar ou como um ritual litúrgico e uma barganha com Deus. Ao contrário, deve ser um ato de amor e alegria, isento de interesses pessoais e avareza. O dinheiro ofertado não deve ser usado como moeda de troca nem deve se tornar conhecido de todas as outras pessoas, mas a nossa mão esquerda não deve tomar conhecimento do que a direita fez (Mt 6:2-4). É Deus quem retribui conforme a sua vontade e Justiça, não porque nós tencionamos isto ou porque decretamos e exigimos, mas porque Ele se alegra em derramar ricas bênçãos sobre o seu povo fiel e obediente.

sábado, 30 de julho de 2016

IMITADORES DE DEUS - COMO IMITAR A DEUS?




Imitadores de Deus – parte 1: O que imitar de Deus?
Efésios 5:1

A natureza que carregamos é caída e depravada. Somente através da graça de Deus em Cristo conseguimos exalar algum odor de santidade. E nós, cuja vida diante da eternidade divina é menos que um piscar de olhos, somos chamados a imitar Aquele que é onipotente, onipresente e onisciente. Como imitar a Deus sendo Ele totalmente Santo e incapaz de errar? Este “mistério” é melhor esclarecido quando mudamos a questão: O que imitar de Deus? Deus se revela a nós em sua Palavra como possuidor de vários atributos. Essa porção ínfima que Deus permite nos revelar de Si contém alguns elementos que podemos imitar, os seus atributos morais. Devemos lembrar apenas de duas coisas: primeira, Deus possui esses atributos de maneira plena; segunda, a nossa imitação não depende da nossa própria capacidade, mas da atuação do Espírito Santo em nós. Os atributos morais de Deus são: santidade, justiça, fidelidade, misericórdia, amor e bondade. Imitar a Deus é manifestar na nossa vida atitudes coerentes com esses atributos. Como Deus demonstra a sua benignidade? Através do amor sacrificial de Jesus e do perdão dos nossos pecados. Como se manifesta a sua santidade? Por meio do seu caráter distinto de todas as criaturas e exaltado acima delas. Como Deus demonstra seu caráter justo? Através da sua retidão e da forma como ele distribui essa justiça no Universo criado. Conhecendo Deus como Ele é, como a sua Palavra o apresenta, somos capazes de ver brilhar em nós um pouco da sua natureza. A nossa luz deve resplandecer diante dos homens por meio das nossas obras para que o Pai seja glorificado nos céus. E isto é possível! Vamos nas próximas oito mensagens estudar melhor esses atributos morais de Deus, a começar por sua Revelação suprema: o Senhor Jesus. Ele é o nosso parâmetro. Imitando ao Senhor, estaremos imitando a Deus, porque Ele é Emanuel, Deus conosco. A Ele toda glória pelos séculos dos séculos. Amém.


Imitadores de Deus – parte 2: Cristo como modelo
Filipenses 2:5-8

Ter o Senhor Jesus como modelo do caráter divino a ser imitado, significa reconhecê-lo como Deus. Ele é a revelação máxima do Pai e todo o seu esplendor. Jesus possuía todos os atributos de Deus, inclusive os seus atributos morais. Ele era benigno, santo e justo. A benignidade de Jesus se demonstra em seu amor sacrificial, em sua renúncia das prerrogativas divinas temporariamente, em seu ministério totalmente voltado àqueles que nada tinham em si e precisavam ser enriquecidos pela graça de Deus. Jesus os amou até o fim (Jo 13:1). A sua santidade está patente em seu caráter divino, perfeito e em todas as suas palavras e atitudes. Jesus não pecou, mas viveu para servir e morrer por quem o desprezou. A justiça do Senhor Jesus se demonstra na pregação do Reino de justiça de Deus e na sua própria obra salvítica que deu a graça da justificação a todo o que nele crê, bem como a nota de condenação àqueles que não creem. Ele é o justo juiz, Aquele que julga retamente. Como Deus amoroso, santo e justo, o Senhor Jesus viveu de modo íntegro e digno de ser imitado. Ele foi humilde e servo. Também foi obediente à Palavra de Deus, a sua própria Palavra, cumprindo cabalmente tudo aquilo que lhe dizia respeito. Ele andou com os desvalidos e marginalizados; curou os degredados e desprezados da sociedade; devolveu a alegria de viver a muitos desesperados e restaurou a fé de muitos que já a haviam perdido. Muito mais que a restauração de enfermidades físicas, Jesus tratou das enfermidades da alma, cuidado das pessoas de forma integral, holística. Não podemos dizer que Jesus estava imitando a Deus, pois é Ele o próprio Deus. Mas em sua realidade humana, deixou-nos exemplo para seguirmos os seus passos, mostrou-nos ser possível. Mesmo o seu sofrimento é exemplo e modelo para nós. Como Ele sofreu, também devemos sofrer.


Imitadores de Deus – parte 3: Santidade
Êxodo 15:11

As Escrituras Sagradas declaram que Deus é Santo (Is 6:3). Originalmente, a palavra santo significa “separado”. Deus está separado da criação de maneira transcendente, distinto de todas as criaturas e exaltado acima delas. Essa santidade também carrega um aspecto ético e diz respeito ao seu caráter puro. A santidade é muito mais que um atributo, mas é a própria natureza de Deus. Somente Deus possui santidade em si mesmo e de forma plena, ao contrário da nossa natureza caída que necessita absorver a natureza divina para que sejamos santos. A santidade de Deus não se revela apenas na sua magnanimidade, mas na lei moral implantada no coração do homem, na sua consciência, e que tem o seu principal termo na Revelação especial de Deus: a Bíblia Sagrada. Temos em Cristo o modelo perfeito da santidade divina (At 3:14). Como imitadores de Deus e de Cristo, o próprio Deus, somos chamados a viver uma vida santa, o que diz respeito ao nosso procedimento, isto é, comportamento puro, fruto de uma identificação com Deus (1 Pe 1:15,16). Essa santidade que o Senhor tem plena em Si, é desenvolvida em nós no decorrer da nossa caminhada cristã, quando somos salvos pela graça e santificados pelo Espírito Santo. Ela é posicional e instantânea, isto é: somos separados para Cristo no momento da nossa conversão (1 Co 1:2; 6:11); e também prática e progressiva, como desenvolvimento da nossa salvação por meio da obediência à Palavra de Deus (Fp 2:12-16).  O nosso chamado é à santidade de vida, a parecer-nos com o Senhor, como novas criaturas mortas para o pecado e vivas para Deus (1 Pe 1:2,15; 2:5; Cl 3:5-9; Ef 4:22). Esta é uma obra do Espírito Santo em nós, que gera seus frutos (Gl 5:22-25). Sejamos santos no nosso proceder, imitando a Deus, separando-nos do mal e absorvendo os frutos da sua justiça, seja por palavras, pensamentos ou ações.


Imitadores de Deus – parte 4: Justiça
Esdras 9:15

Deus é justo. A sua justiça está estreitamente relacionada com a sua santidade. Fazemos aqui um parêntese para lembrar que os atributos de Deus não existem de maneira separada. Quando Deus manifesta a sua justiça, Ele está agindo com fidelidade, misericórdia, amor e bondade. Da mesma forma, o amor de Deus demonstra o seu caráter santo e justo, bem como a sua bondade parte de um Deus misericordioso e fiel. Deus é justo em tratar de modo reto todas as suas criaturas. Segundo Pearlman (1997), podemos ver Deus manifestar este atributo quando livra o inocente, condena o ímpio e exige que se faça justiça (Is 11:3); quando perdoa o pecador penitente (Sl 51:14; 1 Jo 1:9); quando salva o seu povo (Is 46:13); quando dá vitória à causa de seus servos fiéis (Is 50:4-9). O Deus que é justo também requer justiça. A justiça de Deus que se revela no Evangelho (Rm 1:17) para justificar aquele que tem fé em Jesus Cristo (Rm 3:21-26). A justiça que falta ao pecador, Deus lhe atribui (Rm 4:1-8; 2 Co 5:21). Essa justiça é gratuita e está disponível a todos os homens em Cristo (5:17-21). A justiça de Deus nos faz pessoas novas (Ef 4:23,24), cheias do fruto da justiça (Fp 1:11). A justiça de Deus que nos alcança e nos justifica deve ser buscada e nos leva a exercer essa mesma justiça, tanto no nosso relacionamento com Deus quanto o nosso relacionamento com as pessoas. Em todas as áreas da nossa vida temos a oportunidade de nos portar de maneira justa, tomando decisões que levem em conta a prática da justiça de Deus. Nas negociações, na luta por justiça social do Evangelho Integral, na educação dos filhos, na aplicação das leis, no uso e na distribuição dos recursos naturais, no trato com funcionários e colegas de trabalho, em todo o tempo é tempo de imitar a justiça de Deus. Também esta é uma obra do Espírito Santo, da graça de Deus em nós.


Imitadores de Deus – parte 5: Fidelidade
Deuteronômio 7:9

Outro atributo moral de Deus é a sua fidelidade. Desde o início da criação, mesmo com a Queda do homem, Ele permanece fiel àquilo que propôs à humanidade, o que podemos perceber logo no início, ao prometer-nos um salvador (Gn 3:14,15). Em Deus não pode haver sombra de mudança, Ele é o mesmo ontem, hoje e o será para todo sempre, cumprindo tudo o que falou e prometeu (Nm 23:19; Tg 1:17). Podemos confiar plenamente nele, porque as suas palavras não falharão. Ainda que sejamos infiéis, Deus permanece fiel, não por tolerar os nossos pecados, mas porque não pode negar a si próprio. Deus permanece fiel a Ele próprio, à sua Palavra e seus soberanos propósitos (2 Tm 2:13). A sua fidelidade anda acompanhada da sua justiça, que nos perdoa quando pecamos e pedimos perdão (1 Jo 1:9). Como imitar a Deus em sua fidelidade? Como sermos parecidos com o Pai que é totalmente digno de confiança? Todos os homens de Deus que têm a sua história relatada na Bíblia foram fiéis àquilo que Deus lhes propôs, mesmo com todas as suas debilidades, como aconteceu com Moisés, e os seus pecados, como vemos na vida de Davi. A fidelidade de Abraão a Deus gerou obediência. Esses homens e mulheres (cf. Hb 11) puderam ser fiéis porque eram guiados por Deus, porque receberam dele um chamado e a capacitação para implementá-lo. Ser fiel a Deus significa obedecer a sua Palavra, praticá-la. Significa, também, ouvir a voz do Espírito e dizer não à carne, ao mundo e ao diabo. Sendo fiel a Deus, somos fiéis às pessoas, demonstrando amor, solidariedade, cooperação, sendo dignos de confiança. Aquilo que Deus tem proposto para a nossa vida e ministério é o que devemos buscar. Mesmo diante da adversidade e das lutas, sejamos sempre fiéis àquele que sempre nos é fiel e que jamais nos abandona. Ele é sempre o mesmo na distribuição da sua justiça e do seu juízo.


Imitadores de Deus – parte 6: Misericórdia
Efésios 2:4

Deus é misericordioso. Para termos a certeza disso, basta pensarmos na razão de ser da cruz. Deus se dando ao mundo para salvá-lo (Lc 1:78). Diante do nosso pecado, das nossas misérias e da nossa rebeldia, Ele age de maneira favorável, oferecendo-nos a salvação que de outro modo não poderíamos conquistar. A bondade de Deus é uma expressão do seu amor (Jo 3:16) e pode ser percebida por meio da longanimidade como ele trata o pecador (2 Pe 3:8,9). As misericórdias do Senhor não têm fim e são a causa de não sermos consumidos (Lm 3:22,23). O Salmo 103:8 declara que Deus é compassivo e misericordioso, o que o torna tardio em se irar e compreensivo para com as nossas debilidades limitadoras humanas (vs. 9-18). Por causa da misericórdia de Deus podemos ter esperança (Sl 130:7) e confiança (Sl 52:8). Ele é também a esperança dos aflitos e socorre os desesperados (Sl 31:9; 40:11; 57:1). Como podemos experimentar as misericórdias de Deus e não agirmos com misericórdia com aqueles que dela precisam? A parábola do credor incompassivo exemplifica isso (Mt 18:23-35). Os misericordiosos alcançarão misericórdia (Mt 5:7). Diariamente temos a oportunidade de manifestar esta imitação de Deus na nossa vida, olhando ao nosso redor e percebendo as almas perdidas que precisam ouvir o Evangelho da salvação. Essas almas vivem em corpos, do contrário seriam fantasmas. Então carecem de cuidado material também. Alguns passam fome, outros estão entregues às drogas, outros são vítimas de violência, alguns sofrem com dores de separações e mortes. Como filhos da misericórdia, servos do bondoso Deus, é nosso dever e prazer demonstrar uma fé prática que alcance essas vidas. Um coração alcançado por Deus transborda de amor pelas pessoas. Sejamos misericordiosos na prática das boas obras, do perdão e do amor.


Imitadores de Deus – parte 7: Amor
1 João 4:8

Deus é amor. O amor é tido como a maior manifestação da bondade de Deus e toda a sua essência. Já afirmamos que nenhum dos seus atributos existe de maneira separada, de modo que, ao manifestar a sua justiça ao condenar o pecador ao inferno, devemos ver aí o amor de Deus agindo. Sobre este amor, precisamos entender ainda que, primeiro, Deus nos ama por amor a si próprio, para o louvor da sua glória; e, segundo, o seu amor está condicionado à sua Palavra. Isto é: nem tudo o que dizemos que Deus concordará porque é um Deus amoroso é verde. A manifestação suprema do amor de Deus está na cruz (Jo 3:16). Embora geralmente nos encontremos amando somente por palavras, Deus prova o seu amor para conosco através de Cristo (Rm 5:8). Este amor é misericordioso (Ef 2:4), sem medidas (Rm 8:39) e salvador (Tt 3:4-7). Deus ama a todos sem distinção, embora abomine o seu pecado. Mas o seu amor pela Igreja é especial e a ela Ele fala da maneira ímpar (Jo 6:27; Rm 5:8; 1 Jo 3:1) A imitação do amor de Deus é a que mais nos é cobrada na Bíblia, ao ponto de seus escritores afirmarem que é o amor que nos identifica com Ele e que se não nos amarmos uns aos outros nem guardarmos os seus mandamentos – o amor – não temos parte alguma com Ele (Jo 15:12; 1 Jo 4:7-8; 1 Ts 3:12). As qualidades deste amor estão expressas em 1 Coríntios 13. E os seus frutos estão descritos em Gálatas 5:22,23. Este amor deve se manifestar através dos outros atributos, do cuidado com o outro, do exercício dos dons, do evangelismo, da Missão Integral, da unidade do corpo de Cristo. Da mesma forma como Deus se envolveu pessoalmente conosco ao nascer numa estrebaria e experimentar do nosso cotidiano, o seu amor nos leva a nos envolvermos ativamente com as pessoas, suas necessidades, suas crises, suas dores. É um amor além do discurso teológico, é vivo, é pratico.


Imitadores de Deus – parte 8: Bondade
Salmo 31:19

Deus é bom, e isso pode ser comprovado através da realidade como a conhecemos: o universo criado e a existência humana. Somos um ato da bondade de Deus, que nos criou e nos deu todas as coisas que temos desfrutado. A natureza, o ar, o alimento, a saúde, as oportunidades de fazer o bem e viver em paz, a sua Palavra, as bênçãos e livramentos diários, seus propósitos eternos para a nossa salvação, todas essas coisas são frutos da bondade de Deus. Ele é bom em Si mesmo (Mc 10:18; Lc 18:18,19). A sua bondade se manifesta através da sua benevolência, do seu cuidado carinhoso para com a sua criatura (Sl 145:915,16), do seu amor misericordioso e salvador (Jo 3:16), da sua graça (Ef 2:7-10), da sua misericórdia ou benignidade (Sl 136) e da sua longanimidade (Rm 2:4). Deus é bom em tudo o que faz, mesmo quando exerce o seu juízo contra aqueles que o merecem (Rm 11:22). A bondade se encontra entre os frutos do Espírito (Gl 5:22) e é um fruto de quem vive na luz (Ef 5:8,9). Ela se manifesta no caráter e no comportamento de quem pertence a Deus. Paulo exorta aos crentes de Éfeso a serem bondosos uns para com os outros (Ef 4:32). Ele próprio havia sido alvo da bondade cristã em suas viagens missionárias (At 27:3). Como manifestar essa bondade nos dias de hoje? A despeito do evangelho triunfalista e individualista que vem sendo pregado, somos chamados a nos importar com o sofrimento das pessoas e agir de maneira misericordiosa, buscando compreender as suas dores, ajudando-as a superá-las. A pregação e a vivência integral do Evangelho de Cristo nos conduzem a atos gratuitos de amor, quando, tomados pelo Espírito, deixamos as quatro paredes do templo para usar o templo do Espírito Santo, que somos nós, para influenciar o mundo com a simplicidade do Evangelho. Imitar a Deus em sua bondade é amar como Ele nos amou.


Imitadores de Deus – parte 9: Paulo como modelo
1 Coríntios 11:1

A nossa última fronteira na imitação de Deus é imitar pessoas que se tornaram modelos, padrões de qualidade de vida na fé compatíveis com o caráter de Deus, com os seus atributos comunicáveis. É incrível que possa haver pessoas que alcançaram tal nível de intimidade e compromisso com Deus ao ponto de poderem dizer: “Sejam meus imitadores, como eu sou de Cristo” (1 Co 11:1). O apóstolo Paulo não estava se comparando a Jesus, mas incentivando os crentes de Corinto a imitarem-no naquilo que ele se mostrava como modelo, o que podemos ver nos versículos anteriores do capítulo 10. Em 1 Coríntios 4:16 a imitação de Paulo está ligada à sua vivência no ministério, o que envolve compromisso com o Evangelho que se prega e sofrimento por fazê-lo (vs. 1,2,11). Em 2 Tessalonicenses, a imitação que Paulo requer dos irmãos diz respeito ao comportamento deles na pregação da Palavra, de modo ordenado, trabalhando ao invés de serem pesados aos outros (3:7-12). Em Filipenses 3:17, além de se colocar como exemplo, Paulo evoca outros irmãos que andam conforme o exemplo que tinham neles (Paulo e Timóteo). Nos versículos anteriores, ele havia falado sobre não confiar na própria carne, algo que ele mesmo podia fazer, devido ao seu extenso currículo como fervoroso membro do judaísmo (vs. 3-6). Todavia, tudo o que ele era foi considerado menos que nada por amor a Cristo (v. 7). Paulo era alguém que, deixando para traz a Lei da autojustiça, submetia-se a justificação pela fé em Cristo para alcançar a ressurreição, buscando a perfeição em meio às suas debilidades (vs. 8-16). Como vemos, Paulo não está afirmando nesses textos ser um cristão perfeito, digno de ser imitado. Mas naquilo que ele imita a Cristo, exorta aos irmãos que o façam também. Com certeza havia áreas na sua vida nada dignas de serem imitadas, o que não o descredencia como modelo, mas apenas afirma sua humanidade.


Imitadores de Deus – parte dez: Modelos de fé
Hebreus 6:12

Como vimos, a despeito das suas limitações que o levam a se autodeclarar o principal dos pecadores (1 Tm 1:15), havia em Paulo elementos de fé e de prática que eram dignos de serem imitados e ele exorta os irmãos a seguirem o padrão que viam nele. No mundo existem cristãos batalhando por sua fé, dando a vida pelo Evangelho, propagando o amor de Deus por meio das suas obras em favor dos pobres, pregando a Palavra com autoridade teológica e espiritual, sendo modelos de caráter em meio a um mundo desprovido de valores, sendo alicerces da igreja onde muitos são mercenários. Tais cristãos são dignos de serem padrões para a nossa caminhada no Evangelho. Não são pessoas perfeitas, possuem pecados que precisam ser abandonados, mas se reconhecem a caminho e permitem que Deus trabalhe em suas vidas. Tornar-se modelo não significa tornar-se perfeito, mas ser alguém que busca essa perfeição. Imitemo-los nessa busca. O escritor de Hebreus convoca os seus leitores a imitarem a fé daqueles que perseveraram zelosamente na fé até o fim para alcançarem a promessa (6:12). No capítulo 11 ele lista vários desses modelos, pessoas que enfrentaram toda sorte de adversidades em busca de coisas superiores, celestiais. O mesmo autor (13:7) também exorta que sejam utilizados como modelos aqueles que originalmente lhes pregaram o Evangelho, atentando para “o resultado da vida que tiveram” (KJA), ou “o fim da sua vida” (ARA). A fé daqueles pregadores gerou resultados para a sua vida e a dos crentes hebreus. Que estilo de vida poderia gerar resultados tão preciosos? Era isso que eles deveriam imitar. Existem, porém, modelos indignos de imitação, pessoas que praticam o mal e não conhecem a Deus (3 Jo 11). Os fariseus eram um exemplo (Mt 23:1-12). Eles não imitam a Cristo e, por mais belas que sejam as suas palavras, o seu modelo é desprezível.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

É VOCÊ QUEM ACEITA A JESUS OU É JESUS QUEM TE ACEITA?




A maioria das igrejas costuma fazer um apelo à conversão no final da pregação. Não importa se a mensagem era ou não evangelística, se confrontava o pecador com a sua condição de carente da glória de Deus. Muitas vezes, ela trata de temas específicos da igreja ou trazem mensagens de ânimo em meio às tribulações. Não importa, o apelo é sempre feito. Então pode ser que as pessoas não estejam se convertendo pela motivação correta, mas se "convencendo" por suas próprias motivações. O apelo toca o emocional, cria um clima propício a uma reflexão interior que objetiva convencer o ouvinte de que ele precisa daquela solução que o pregador apresentou. Confrontado com seus problemas e ansioso por vê-los solucionados com base nas promessas apresentadas, o ouvinte se rende e aceita a Jesus. Grande parte das conversões segue este princípio: começam do lado de fora, através de mecanismos humanos de convencimento, onde até mesmo a neurolinguística é utilizada como ferramenta de poder. Encontramos aqui dois problemas. O primeiro é que tais mecanismos não são bíblicos e não demonstram uma conversão genuína, isto é, pela motivação correta. Não podemos julgar a vida de todos os convertidos, saber da sua intimidade com Deus, absoluta certeza de que a sua conversão foi um mero convencimento e conhecer que planos Deus tem para a sua vida. Entretanto, a razão para aceitar a Jesus demonstrará que ideia ele tem do Evangelho, da vontade de Deus para o pecador, das consequências do pecado e da conversão, do compromisso com a obra de Deus e a sua Palavra posterior à conversão. Se o que o levou a aceitar a Cristo não foi o reconhecimento da necessidade de salvação baseada na Queda, na obra de Cristo e na realidade do céu e do inferno, provavelmente esse “convertido” não entendeu a mensagem genuína do Evangelho, mas apenas abraçou uma religião que prometera lhe ajudar em seus problemas, e é isso que ele viverá e buscará em sua vida cristã.
Podemos observar um segundo problema que envolve a questão dos apelos e das conversões durante o culto, o que nos leva a duas outras questões. Primeira: quem de fato tem poder para convencer o homem do seu pecado e conduzi-lo ao arrependimento e à conversão? E segunda: o ser humano caído, destituído da glória de Deus, morto em seus delitos e pecados, incapaz de buscar a Deus tem a capacidade de aceitar a Jesus? João 16: 8 responde claramente a nossa primeira pergunta: é o Espírito Santo que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Não é o apelo do pastor, não é a música melancólica ou triunfalista de fundo, não é a eloquência do pregador, não é a necessidade de ver os seus problemas resolvidos para ser feliz. Quem convence o pecador da sua condição miserável e o conduz à dizer sim a Deus é o Espírito Santo. Quem se convence a si próprio ou é convencido pelo homem não foi convencido pelo Espírito Santo, logo não é convertido. Muitos pregadores deixam os ouvintes a vontade, não insistem e reconhecem a conversão é uma atuação de Deus direta na vida do indivíduo. Se Deus quiser utilizar o momento do culto ou qualquer outro, Ele utilizará, mas com a mensagem correta. Outros pregadores são mais insistentes e não se conformam enquanto ao menos uma vida não aceitar a Jesus após a preleção. Esta aceitação é uma medalha de honra aos seus méritos de grandes pregadores, que convencem e arrastam multidões atrás de si, multidões que, muito provavelmente, eles terão pouco ou nenhum contato após aquele instante. Ninguém pode desejar fazer o papel do Espírito Santo, agindo com leviandade no trato com as coisas de Deus e as almas que Ele ama. Ninguém convence ninguém. Nenhuma programação, nenhum ambiente preparado, nenhuma programação neurolinguística é necessária: a obra é de Deus, é de Cristo, é do Consolador.
A última pergunta que precisamos responder é se o homem corrompido pelo verme do pecado original pode responder por sua própria capacidade o apelo à conversão. As estratégias que já comentamos parecem forçar uma situação, levar o indivíduo a se sensibilizar com sua condição – seja de pecador ou de pobre sofredor – até que entregue a sua vida a Jesus, levantando a mão e indo até à frente para receber uma oração. É preciso desconfiar da motivação de ambos os lados. O homem está irremediavelmente perdido, incapaz de produzir dentro de si qualquer motivação de buscar a Deus. É Deus quem dele se aproxima, quem o convence do pecado, da justiça e do juízo através da atuação do Espírito Santo. Se nós nos convencêssemos a nós mesmos da nossa condição de pecadores e da necessidade de Cristo para a nossa salvação, por que precisaríamos do Espírito Santo? O homem só busca a Deus quando Ele o busca. O pecador só aceita a Cristo quando já foi aceito por Ele. O Evangelho é o instrumento utilizado por Deus para acessar a mente e a alma do pecador, para mostrar-lhe a redenção e chamá-lo ao arrependimento. Esse processo começa e termina com o Espírito Santo. Escrevendo aos efésios, Paulo apresenta a adesão do pecador à fé em Cristo como iniciativa da graça de Deus. Em Cristo, Ele nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais (v. 3), elegeu-nos (v. 4), predestinou-nos segundo a sua vontade (v. 5) e nos selou com o Espírito Santo da promessa como penhor da nossa redenção e possessão sua (vs. 13,14). Assim como ninguém é capaz de “ganhar almas para Jesus”, nenhuma alma pecadora se aproxima de Deus se Ele não o atrair. A obra é de Deus, é a sua poderosa graça que opera em nós, não os mecanismos humanos ou o poder da retórica.

Leia e medite: Atos 3:19; João 16:8; Efésios 1:4-14.

Ação transformadora: Tenha certeza da sua conversão e da sua salvação.


 Mizael de Souza Xavier

quarta-feira, 6 de julho de 2016

OS "CAÇA-PALAVRA" E A IMPORTÂNCIA DE VIVER A PALAVRA DE DEUS



Nos anos 80, um dos filmes que mais brilhou nos cinemas foi “Os caça-fantasmas”. Um grupo de quatro amigos montou uma empresa especializada em caçar fantasmas. Bastava discar um número de telefone e lá estavam eles com suas máquinas de raios para capturar qualquer assombração. O refrão da música repetia: “Quem você vai chamar? Caça-fantasmas!”. O mundo evangélico parece ter um sistema parecido: são os “caça-Palavra”. No momento da angústia, do desespero, da dúvida ou qualquer outra emergência, basta “discar” um versículo e parece que tudo se resolve.
Eis alguns “números de emergência” da Bíblia. quando está triste, chame João 14; quando você está preocupado, ligue Mateus 6: 19-34; quando a sua fé precisa de agitação, ligue Hebreus 11; você se sente para baixo , ligue Romanos 8: 31-39; quando você quer segurança cristã, ligue Romanos 8: 1-30; quando você quer coragem para um tarefa, chamar Josué 1; segredo de Paulo para a felicidade, Colossenses 3:12-17; está deprimido, chame Salmo 27; Se o seu bolso está vazio, ligue Salmo 37; se está desanimado no seu trabalho, o Salmo 126. Existem muitos outros “disque-soluções” que os “caça-Palavra” utilizam, como se o simples abrir da Bíblia, ler ou tomar posse de alguns versículos fosse resolver algum problema. Ou como se a Bíblia fosse um mantra que, se repetido várias vezes, trará algum benefício. A Palavra de Deus só se torna eficaz na nossa vida quando ela é posta em prática, vivida, obedecida. Vencer uma barreira, passar por um problema, alcançar uma vitoria, obter sucesso é muito mais que folhear a Bíblia, mas envolve mudança de pensamento e de comportamento, arrependimento e confissão de pecados, prática do amor, santidade de vida, libertação de vícios abandono de si, solidariedade.
Se não conheço a razão da minha tristeza nem estou disposto a dar os passos necessários para uma vida cristã feliz, de nada me adiantará chamar João 14. A minha preocupação somente desaparecerá ou será trabalhada se eu colocar em prática o que me diz Mateus 6:19-34. Recitar o Salmo 91 num momento de perigo não me livrará da mão de bandidos, mas ser prudente e investir em segurança, confiando na proteção de Deus, sim. Não vencerei os meus medos apenas crendo que o Senhor é o Pastor do Salmo 23, mas abrindo a minha vida para que Ele realmente seja Senhor e Soberano absoluto do meu coração. Se estou por baixo, não me adianta apenas conhecer o que diz Romanos 8:31-39, mas vivenciar o poder do amor de Deus que pode me colocar de pé. Quando saio de casa para o trabalho ou para uma viagem, ler o Salmo 121 não fará com que os acidentes fiquem longe ou eu não tenha nenhum tipo de chateação no meu emprego. Isso seria superstição.
A Bíblia não é um simples manual de instruções com fórmulas prontas para todas as ocasiões. Compreender o que ela nos diz e executar aquilo que ela nos pede não é tão fácil quanto parece. Viver a Bíblia e torná-la real em nosso dia a dia envolve, além do que já dissemos, comprometimento com Deus, com os valores do seu Reino. O processo da cura espiritual e emocional é demorado, requer renúncia. Tornar a Palavra a bússola da nossa vida é mais que tomá-la nas mãos e abri-la a esmo, mas envolve impregnar a nossa vontade com o seu aroma suave, fazer dela o nosso alimento diário. Achar que tudo será fácil e mágico porque temos a Bíblia nas mãos é um terrível engano. Não foi fácil nem mágico para aqueles que a escreveram, por que seria para nós? Não foi simples para os homens e mulheres de Deus mencionados em Hebreus 11, por que seria diferente conosco?
Jesus foi tentado através da própria Palavra. Os apóstolos pregaram a Palavra e por ela sofreram toda sorte de perseguições, alguns foram martirizados. O que Deus espera de nós é que nos deixemos tomar de tal forma por sua Palavra que ela se torne o nosso respirar, o nosso caminhar, o nosso ouvir, o nosso falar, o nosso enxergar. Não simplesmente porque acreditamos nele, mas acima de tudo porque a colocamos em prática. A fé é prática. O avivamento espiritual vem por meio de obediência à Palavra. Ela é o começo, meio e fim da fé Cristã. Logo, ao invés de caçar a Palavra, devemos vivê-la em toda a sua inteireza, pela graça de Deus que nos capacita a isso, pelo Espírito Santo que nos justifica e santifica.



Mizael de Souza Xavier 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

SUBMETENDO-SE À VONTADE DE DEUS




O cristianismo de hoje é um cristianismo de benção, de poder, de milagres e de unção. É isso que tem sido pregado nas igrejas: que crente não sofre e que Deus possui prosperidade e sucesso profissional para ele guardados num cofre no céu, aberto pela senha que é o nome de Jesus e os dízimos. Muito se fala do Deus de poder e pouco se fala do Deus de autoridade, do Deus que é justiça e juízo. Pouco se busca a vontade de Deus. Mas a jovem Maria, uma moça pobre de Nazaré, não estava em busca de ouro ou prata, não desejava carros importados nem empresas multimilionárias. Ela só queria uma coisa: que a vontade de Deus se cumprisse na vida dela.Adorada pelos católicos, a figura de Maria acabou sendo negligenciada pelos evangélicos. Mas é esta personagem agraciada por Deus, bem-aventurada entre todas as mulheres e ao mesmo tempo pecadora como nós, que traz uma das maiores e mais belas lições da Bíblia: a submissão à vontade do Pai. O texto de Lucas 1:26-38 nos traz grandes lições. Dos versículos 26 a 28, Lucas nos mostra que Deus se revela a nós. Deus sempre se revelou aos homens ao longo dos tempos (Adão e Eva, Moisés, Abraão, os profetas, apóstolo Paulo). Ele se revela por meio da História, por meio das Escrituras (Êxodo 34:27,28; mandamentos, profecias e promessas), por meio das coisas criadas (Salmo 19:1-4). Jesus Cristo é a revelação perfeita de Deus (João 1:1-14; João 5:18; Gálatas 4:4).
          Qual o propósito de Deus se revelar ao homem? Manter relacionamento com ele e mostrar-lhe a sua vontade. Deus se revelou à sua serva, Maria, para mostrar a obra que haveria de realizar por meio dela. Nem sempre agimos como Maria, nem sempre estamos prontos para ouvir aquilo que Deus quer falar para nós. Às vezes a vontade de Deus para a nossa vida nos confunde, porque nem sempre aquilo que Deus tem para nós é o que queremos para nós mesmos. Quais são os planos de Deus para a nossa vida? Deus tem uma grande obra a realizar em nós e por nós.Nos versículos 29 e 34, Maria nos dá um exemplo de humildade e de reconhecimento da nossa incapacidade frente aos desígnios de Deus. Assim como Maria, somos seres humanos falhos, incompletos, mas mesmo assim Deus nos escolhe e nos separa para a sua obra. Precisamos admitir nossas falhas, nossos pecados, nossa incapacidade de realizar sem Deus a sua obra. Mas como fazê-lo? Deus responde à Maria que era Ele quem iria realizar a grande obra da salvação (vs. 30-33; 35-37). Não é pelo nosso talento, pela nossa capacidade, mas pelo poder de Deus que opera em nós. É Deus quem opera tudo em todos (1 Coríntios 12:6; Colossenses 1:29). A nossa suficiência vem do Senhor (2 Coríntios 3:5). Deus não chama os capacitados, mas capacita os escolhidos. A vontade de Deus será realizada a despeito da nossa pequenez: Deus se torna grande em nós.
           O que precisamos é esperar em Deus e confiar que ele fará tudo conforme nos prometeu. Diante da grandeza da obra de Deus e da compreensão espiritual do seu chamado, Maria dá a resposta já esperada pelo Senhor (v. 38). Ela se entrega de forma humilde e submissa à vontade do Pai. Um coração alcançado por Deus é um coração que deseja servi-lo. E é impossível servir a Deus sem obedecê-lo. Mesmo diante daquilo que era humanamente impossível, Maria se submeteu aos desígnios de Deus. Submeter-se à vontade de Deus, para a Maria daquela cultura, significaria correr o risco de perder o seu noivo, ser apedrejada por suspeita de adultério e ser marginalizada pela sociedade.O quanto estamos dispostos a arriscar para cumprir a vontade de Deus para a nossa vida? Será que estamos dispostos a pagar o preço? Será que realmente acreditamos em Deus ao ponto de nos deixar guiar totalmente por ele ao invés de resolver tudo da nossa maneira e com nossos próprios esforços? Diante da revelação de Deus devemos nos submeter à sua vontade, confiar no seu poder e obedecer a sua Palavra. O apóstolo Paulo foi um grande exemplo: de perseguidor da Igreja a mensageiro das boas-novas. Diante da revelação de Deus, Paulo se converteu e se submeteu até a morte aos planos de Deus para a sua vida.Precisamos refletir: será que conhecemos a vontade de Deus para a nossa vida? Será que estamos dispostos a nos submeter a Deus e a pagar o preço para que a sua obra se cumpra em nós? Somos como Maria, que se reconheceu como uma serva do Senhor e se submeteu à sua Palavra, ou como muitos crentes que não querem servir a Deus, mas querem que Deus os sirva, decretando bênçãos para si e exigindo e cobrando de Deus prosperidade para as suas vidas?

SALMO 6 - O PECADO DO HOMEM E A MISERICÓRDIA DE DEUS




Foram muitos os momentos da minha vida – e ainda há – em que me ajoelhei aos pés do Senhor clamando pela sua misericórdia e o seu perdão. Estamos sempre querendo acertar, desejando seguir os mandamentos de Deus, mas nem sempre conseguimos, porque o pecado habita em nós e por vezes nos conduz ao caminho do erro. Com o rei Davi não era diferente. Uma particularidade da Bíblia é relatar não somente a força, a sabedoria e a glória dos seus personagens. À exceção do Senhor Jesus, que não pecou, a Bíblia relata, também, os equívocos e pecados cometidos por seus heróis, demonstrando que eles eram tão humanos quanto nós e nos fazendo entender que somente a Deus pertence a glória e somente Ele é perfeito e totalmente  justo. Davi estava aflito, pois passava por um período de enfermidade quase fatal e cria que ela era fruto da ira de Deus que se abatera sobre a sua vida. Esse momento de doença atraía o olhar dos seus inimigos, que sentiam-se triunfantes. E quantas vezes isso acontece conosco! Passamos por um momento de luta, de tribulação, de desespero, de doença e as pessoas dizem: “Está vendo ali o crente como sofre? Onde está o seu Deus?”. Ou quando cometemos algum erro, algum pecado, todos os dedos são apontados para nós e as pedras são jogadas: “Está vendo como peca aquele que se diz servo do Senhor?”. A nossa atitude deve ser como a de Davi: clamar pela misericórdia de Deus, pelo perdão dos nossos pecados. Muitos dizem; “Eu não posso, não consigo, é mais forte do que eu!”. Davi também não podia por seu próprio poder, mas confiava em Deus: “Volta-te, Senhor, e livra a minha alma; salva-me por tua graça” (v. 3). Somente a graça de Deus pode nos libertar e nos salvar dos nossos pecados. A enfermidade do corpo em breve passará, mas a alma doente sofrerá um dano irreparável se não for curada. Quando devemos buscar ao Senhor? Quando devemos clamar por sua misericórdia com o coração sincero e desejoso por mudança? Agora, pois depois da morte não existe mais perdão (v. 5). Os ossos de Davi se abalavam diante da sua dor (v. 2). Muitos pecados nos aprisionam na doença, muitas delas psicossomáticas, algumas pessoas entram em depressão, outras têm tendência suicida. Separações de casais são frequentes por conta de pecados não confessados e abandonados. Não fiquemos com os olhos cheios de lágrimas, tristes, arrasados (v. 7). Busquemos a presença do Senhor, confessemos os nossos pecados, clamemos por sua misericórdia. Ele com certeza nos ouvirá e nos perdoará. Nossos inimigos serão envergonhados! Todavia, a nossa motivação não deve ser apenas a nossa dor ou o olhar reprovador das pessoas, mas o fato de estarmos pecando contra um Deus Santo e Justo, que merece todo o nosso amor, a nossa obediência e o nosso serviço.

Para meditar: Lucas 13:3; Atos 3:19; Ezequiel 18:31; Isaías 1:16-20; 1 João 1:9; 2 Crônicas 7:14; Romanos 4:25.



Ação transformadora: Arrependa-se e peça perdão a Deus.

SALMO 4 - FÉ E OBEDIÊNCIA: INGREDIENTES DA PAZ




Neste mundo de desigualdades e angústias, onde os tremores de terra e de almas alcançam todas as pessoas de igual modo, é muito bom saber em quê e em quem temos depositado a nossa confiança. A quê ou a quem recorremos nos momentos de angústia, quando a doença e a morte batem à nossa porta, quando nos vemos na escassez de dinheiro, de perspectivas, de amigos, de sonhos? Quando os nossos inimigos se levantam contra nós e tentam nos derrubar, qual é a nossa atitude? Este quarto Salmo nos revela que a atitude do rei Davi era de buscar a Deus, clamando por sua justiça e sua misericórdia. Ele se sentia oprimido por seus adversários e sabia que a vida deles era pautada na vaidade e na mentira. Quanto a ele, mantinha a sua integridade diante de Deus e deste modo podia ter a certeza de que as suas orações eram ouvidas (v. 3). Muitas das nossas orações não são ouvidas porque não vivemos retamente diante de Deus, porque nossos desejos e nossos pedidos não envolvem a sua justiça. Muitos acham que Deus atende a todos em tudo o que necessitam, mas não é isso que nos revela a Bíblia, basta lermos Tiago 4:1,2. Um coração corroído pela maldade e pela cobiça não tem as suas orações atendidas por Deus. Aquele, porém, que se sujeita a Deus, chega-se a Ele, reconhece a sua pequenez e se humilha na sua presença, é exaltado (cf. Tiago 4:7-10). Assim era o rei Davi. Ele podia dormir tranquilo e em paz, porque o seu coração estava tranquilo. Os seus inimigos tinham tudo, tinham posses, mas não tinham Deus, não tinham paz, não dormiam tranquilos, não podiam repousar. Em quem está a nossa segurança: nos prazeres e nos poderes do mundo, nas suas riquezas perecíveis ou em Deus? Aquilo em quê temos firmado a nossa vida pode nos trazer paz de consciência, pode nos manter de pé no dia da angústia? O apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Filipos: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Fé e obediência a Deus nos garantem uma vida de paz, mesmo em meio às guerras cotidianas. Dormiremos e acordaremos tranquilos, guardados e salvos, porque o Senhor estará conosco. Ele nos dará a paz que o mundo não dá e que o dinheiro não pode comprar.

Para meditar: 1 Pedro 3:11; Efésios 2:14; Romanos 5:1; Filipenses 4:6,7; Mateus 7:24-27.



Ação transformadora: Ore por seus inimigos.