O cristianismo de hoje é um
cristianismo de benção, de poder, de milagres e de unção. É isso que tem sido
pregado nas igrejas: que crente não sofre e que Deus possui prosperidade e
sucesso profissional para ele guardados num cofre no céu, aberto pela senha que
é o nome de Jesus e os dízimos. Muito se fala do Deus de poder e pouco se fala
do Deus de autoridade, do Deus que é justiça e juízo. Pouco se busca a vontade
de Deus. Mas a jovem Maria, uma moça pobre de Nazaré, não estava em busca de
ouro ou prata, não desejava carros importados nem empresas multimilionárias.
Ela só queria uma coisa: que a vontade de Deus se cumprisse na vida dela.Adorada pelos católicos, a figura de
Maria acabou sendo negligenciada pelos evangélicos. Mas é esta personagem
agraciada por Deus, bem-aventurada entre todas as mulheres e ao mesmo tempo
pecadora como nós, que traz uma das maiores e mais belas lições da Bíblia: a
submissão à vontade do Pai. O texto de Lucas 1:26-38 nos traz grandes lições.
Dos versículos 26 a 28, Lucas nos mostra que Deus se revela a nós. Deus sempre se revelou aos homens ao
longo dos tempos (Adão e Eva, Moisés, Abraão, os profetas, apóstolo Paulo). Ele
se revela por meio da História, por meio das Escrituras (Êxodo 34:27,28;
mandamentos, profecias e promessas), por meio das coisas criadas (Salmo
19:1-4). Jesus Cristo é a revelação perfeita de Deus (João 1:1-14; João 5:18;
Gálatas 4:4).
Qual
o propósito de Deus se revelar ao homem? Manter relacionamento com ele e
mostrar-lhe a sua vontade. Deus se revelou à sua serva, Maria, para mostrar a
obra que haveria de realizar por meio dela. Nem sempre agimos como Maria, nem
sempre estamos prontos para ouvir aquilo que Deus quer falar para nós. Às vezes
a vontade de Deus para a nossa vida nos confunde, porque nem sempre aquilo que
Deus tem para nós é o que queremos para nós mesmos. Quais são os planos de Deus
para a nossa vida? Deus tem uma grande obra a realizar em nós e por nós.Nos
versículos 29 e 34, Maria nos dá um exemplo de humildade e de reconhecimento
da nossa incapacidade frente aos desígnios de Deus. Assim como Maria, somos
seres humanos falhos, incompletos, mas mesmo assim Deus nos escolhe e nos
separa para a sua obra. Precisamos admitir nossas falhas, nossos pecados, nossa
incapacidade de realizar sem Deus a sua obra. Mas como fazê-lo? Deus responde à
Maria que era Ele quem iria realizar a grande obra da salvação (vs. 30-33;
35-37). Não é pelo nosso talento, pela nossa capacidade, mas pelo poder de Deus
que opera em nós. É Deus quem opera tudo em todos (1 Coríntios 12:6;
Colossenses 1:29). A nossa suficiência vem do Senhor (2 Coríntios 3:5). Deus
não chama os capacitados, mas capacita os escolhidos. A vontade de Deus será
realizada a despeito da nossa pequenez: Deus se torna grande em nós.
O que precisamos é esperar em Deus e
confiar que ele fará tudo conforme nos prometeu. Diante da grandeza da obra de
Deus e da compreensão espiritual do seu chamado, Maria dá a resposta já
esperada pelo Senhor (v. 38). Ela se entrega de forma humilde e submissa à
vontade do Pai. Um coração alcançado por Deus é um coração que deseja servi-lo.
E é impossível servir a Deus sem obedecê-lo. Mesmo diante daquilo que era
humanamente impossível, Maria se submeteu aos desígnios de Deus. Submeter-se à
vontade de Deus, para a Maria daquela cultura, significaria correr o risco de
perder o seu noivo, ser apedrejada por suspeita de adultério e ser
marginalizada pela sociedade.O quanto estamos dispostos a arriscar
para cumprir a vontade de Deus para a nossa vida? Será que estamos dispostos a
pagar o preço? Será que realmente acreditamos em Deus ao ponto de nos deixar
guiar totalmente por ele ao invés de resolver tudo da nossa maneira e com
nossos próprios esforços? Diante da revelação de Deus devemos nos submeter à
sua vontade, confiar no seu poder e obedecer a sua Palavra. O apóstolo Paulo
foi um grande exemplo: de perseguidor da Igreja a mensageiro das boas-novas.
Diante da revelação de Deus, Paulo se converteu e se submeteu até a morte aos
planos de Deus para a sua vida.Precisamos refletir: será que
conhecemos a vontade de Deus para a nossa vida? Será que estamos dispostos a
nos submeter a Deus e a pagar o preço para que a sua obra se cumpra em nós?
Somos como Maria, que se reconheceu como uma serva do Senhor e se submeteu à
sua Palavra, ou como muitos crentes que não querem servir a Deus, mas querem
que Deus os sirva, decretando bênçãos para si e exigindo e cobrando de Deus
prosperidade para as suas vidas?
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