A onda neopentecostal que varre um bom número
de igrejas evangélicas pratica uma fé utilitarista e mundana, preocupando-se
apenas com as conquistas terrenas e desprezando os valores do Reino de Deus e a
volta de Cristo. Jesus não é mais que um nome mágico a ser invocado para a
solução dos mais diversos problemas do crente, acima de tudo os financeiros. Um
dos textos base para essa heresia é João 15:7, mas somente a parte b:
"pedi o que quiseres e vos será feito". E tais crentes querem muitas
coisas! O neopentecostalismo, todavia, esqueceu-se do restante do texto, que
traz duas condicionantes: permanecermos em Cristo e as suas palavras
permanecerem em nós (vs. 1-27).
A palavra de Cristo neste contexto está
ligada à pratica do amor como cumprimento dos mandamentos de Deus (vs. 10-12).
Essa permanência em Cristo, além de levar à prática do amor, produz frutos na
vida do cristão, o que está de acordo com Efésios 2:8-10. Vemos que os
pregadores neopentecostais se atêm a uma gota no oceano que é o Evangelho de Cristo.
Separam aquilo que para eles é interessante, fundamentam-se nisso e desprezam
todo o resto, o contexto. O que Deus nos diz através deste capítulo 15 de João
é que o cristão precisa identificar-se com Cristo, estar e permanecer nele,
como o ramo está ligado à árvore para ter vida. Um galho que faz parte de uma
mangueira, jamais produzirá caju. Quem está verdadeiramente enxertado em Cristo
irá produzir os seus frutos. Somos a árvore plantada no pomar do Senhor,
cuidadas e guardadas por Ele. Dele vem todos os nutrientes que precisamos para
crescer e frutificar. Árvore sem frutos é inútil e o seu fim é ser cortada.
Talvez nem árvore seja! Há muito joio no meio do trigo.
Estar em Cristo é muito mais que adesão a uma
igreja cristã ou uma declaração de fé, porque mesmo os demônios creem em Deus e
tremem. Significa fazer o que Ele fez: ser obediente até a morte, cumprir a
vontade do Pai. Isto é, mostrar essa identificação através de uma prática de
vida que está balizada pela Palavra de Deus. É muito fácil fazer parte de uma
denominação cristã, mas nelas existem muitos falsos mestres e falsos profetas.
Isto é: nem todos os que se reúnem como igreja o são de verdade. Quem é de
Cristo reflete o seu caráter, tem a sua motivação redirecionada, seus valores
alterados. O servo do Senhor tem nova disposição e vontade, não pensa de
maneira egoísta e mesquinha, mas o amor, fruto do Espírito Santo, move o seu
coração em uma nova direção: a vertical, dele para o Pai e do Pai para ele. E
esse fluir de comunhão deságua em outra direção: a horizontal, na sua relação
com o mundo e as pessoas que nele há, uma relação amorosa, comprometida,
desinteressada e solidária.
Então chegamos ao ponto principal defendido
pelos neopentecostais: ter todos os nossos pedidos atendidos. O que pedirá
aquele que está comprometido com o Reino de Deus? Que valores estarão presentes
na oração de quem deseja algo do céu sabendo-se cidadão do céu? Que motivação e
que intenções comporão essa oração? Já não somos nós que vivemos, mas Cristo
vive em nós. E esse Cristo vivo em nossos corações sabe fazer a oração correta,
porque a sua existência está impregnada pela Palavra de Deus. Jesus deixa de
ser uma senha que abre as portas dos cofres celestiais (onde afirmam existir o
outro a prata e o bronze) e passa a ser Senhor, soberano da nossa vontade, dos
nossos pedidos de oração. Não sabemos orar como convém, mas o Espírito Santo
intercede por nós com gemidos inexprimíveis. O Espírito milita contra carne e
esta deve ser mortificada para que as nossas orações sejam santas e corretas.
Em duas situações o Senhor Jesus expressou o
que deve estar em nosso coração no momento da oração. Primeiro, ao ensinar os
apóstolos a orar da maneira correta, ele colocou uma ênfase na oração: “Seja
feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10). O que está em
vista numa oração não é o que nós queremos, mas o que o Pai quer para nós. Por
mais sinceras, necessárias e altruístas que sejam as nossas necessidades, todas
devem estar submetidas à soberana vontade de Deus. A vontade que é feita no
céu, devemos desejar para a nossa realidade terrena, entendendo que tudo
repercute na eternidade. O segundo momento é na própria oração do Senhor Jesus
no jardim do Getsêmani. Estando às portas da sua Paixão, Ele orou ao Pai que
afastasse dele aquele cálice. Como Deus, Jesus sabia que sofrimentos terríveis
o aguardavam naquela forma humana. A prisão, os açoites, o escárnio e, por fim,
a sangrenta e brutal crucificação. Contudo, Ele ora: “Pai, se queres afasta de
mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
Jesus não precisava ter passado por aquilo
tudo, porque éramos nós os merecedores daquela cruz. Ele nada fez para merecer
tal morte, porque é justo e verdadeiro. Ele é Deus! Mas o grande amor com que nos
amou, levou-o a entregar-se a si mesmo como sacrifício por nossos pecados. Esta
era a vontade de Deus que Ele veio cumprir. Enquanto Ele, o próprio Deus,
fez-se maldição em nosso lugar, abriu mão da sua glória e se tornou servo dos
seus servos, nós buscamos a nossa vontade, exigimos os nossos direitos às
bênçãos que dizemos terem sido conquistadas para nós na cruz, decretamos a
nossa vitória, profetizamos o cumprimento das promessas. Que promessas? Em que
momentos dizemos: “Senhor, não seja feito como eu quero, mas como tu queres”?
A teologia neopentecostal é desprovida de
base bíblica e de graça. Ela é legalista, materialista e demoníaca. O cristão
genuíno, convertido ao Senhor Jesus, busca a vontade de Deus, e a sua vontade é
que vivamos em amor e cumpramos os seus mandamentos. Logo, nossos pedidos de
oração devem ter o amor como base: amor a Deus e ao próximo. Eles devem,
também, obedecer os parâmetros bíblicos e jamais ir contra os mandamentos de
Deus. A nossa oração deve estar repleta de graça e de bondade, cheia da
expectativa do agir soberano de Deus. Mais que desejar ardentemente que um
pedido seja atendido, o nosso coração deve ansiar por ver a vontade de Deus se
cumprindo, e se alegrar nisso, porque não teremos o que a nossa mente limitada
planejou, mas o que de bom, perfeito e agradável Deus tem para nós.
Quais são os frutos das nossas orações? Quem
poderá saboreá-los? Que frutos temos dado? Deus cuida de nós, abençoa-nos com
toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo, provê-nos de
tudo o que precisamos para viver (vida, ar, saúde, alimento, vestimenta, fé),
dá-nos livramentos que nem sempre temos conhecimento, fortalece-nos,
capacita-nos, reveste-nos de poder para pregar o seu Evangelho, enche-nos com
seu Santo Espírito, santifica-nos na sua Palavra, adota-nos como seus filhos e
nos destina para a eternidade ao seu lado. O que ainda mais temos a exigir?
Vamos dar glória a Deus, porque Ele não atende a maioria das nossas orações.
Vamos viver em santidade, em amor, servindo uns aos outros, sendo gratos por
tudo, batalhando pela fé evangélica, socorrendo os necessitados. Busquemos em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, porque, de acordo com os
valores desse Reino e o padrão de justiça de Deus, todas as demais coisas nos
serão acrescentadas.
Amém.
Mizael
de Souza Xavier
29.06.2016
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