quarta-feira, 29 de junho de 2016

ORAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO COM CRISTO E OS MANDAMENTOS DE DEUS




A onda neopentecostal que varre um bom número de igrejas evangélicas pratica uma fé utilitarista e mundana, preocupando-se apenas com as conquistas terrenas e desprezando os valores do Reino de Deus e a volta de Cristo. Jesus não é mais que um nome mágico a ser invocado para a solução dos mais diversos problemas do crente, acima de tudo os financeiros. Um dos textos base para essa heresia é João 15:7, mas somente a parte b: "pedi o que quiseres e vos será feito". E tais crentes querem muitas coisas! O neopentecostalismo, todavia, esqueceu-se do restante do texto, que traz duas condicionantes: permanecermos em Cristo e as suas palavras permanecerem em nós (vs. 1-27).
A palavra de Cristo neste contexto está ligada à pratica do amor como cumprimento dos mandamentos de Deus (vs. 10-12). Essa permanência em Cristo, além de levar à prática do amor, produz frutos na vida do cristão, o que está de acordo com Efésios 2:8-10. Vemos que os pregadores neopentecostais se atêm a uma gota no oceano que é o Evangelho de Cristo. Separam aquilo que para eles é interessante, fundamentam-se nisso e desprezam todo o resto, o contexto. O que Deus nos diz através deste capítulo 15 de João é que o cristão precisa identificar-se com Cristo, estar e permanecer nele, como o ramo está ligado à árvore para ter vida. Um galho que faz parte de uma mangueira, jamais produzirá caju. Quem está verdadeiramente enxertado em Cristo irá produzir os seus frutos. Somos a árvore plantada no pomar do Senhor, cuidadas e guardadas por Ele. Dele vem todos os nutrientes que precisamos para crescer e frutificar. Árvore sem frutos é inútil e o seu fim é ser cortada. Talvez nem árvore seja! Há muito joio no meio do trigo.
Estar em Cristo é muito mais que adesão a uma igreja cristã ou uma declaração de fé, porque mesmo os demônios creem em Deus e tremem. Significa fazer o que Ele fez: ser obediente até a morte, cumprir a vontade do Pai. Isto é, mostrar essa identificação através de uma prática de vida que está balizada pela Palavra de Deus. É muito fácil fazer parte de uma denominação cristã, mas nelas existem muitos falsos mestres e falsos profetas. Isto é: nem todos os que se reúnem como igreja o são de verdade. Quem é de Cristo reflete o seu caráter, tem a sua motivação redirecionada, seus valores alterados. O servo do Senhor tem nova disposição e vontade, não pensa de maneira egoísta e mesquinha, mas o amor, fruto do Espírito Santo, move o seu coração em uma nova direção: a vertical, dele para o Pai e do Pai para ele. E esse fluir de comunhão deságua em outra direção: a horizontal, na sua relação com o mundo e as pessoas que nele há, uma relação amorosa, comprometida, desinteressada e solidária.
Então chegamos ao ponto principal defendido pelos neopentecostais: ter todos os nossos pedidos atendidos. O que pedirá aquele que está comprometido com o Reino de Deus? Que valores estarão presentes na oração de quem deseja algo do céu sabendo-se cidadão do céu? Que motivação e que intenções comporão essa oração? Já não somos nós que vivemos, mas Cristo vive em nós. E esse Cristo vivo em nossos corações sabe fazer a oração correta, porque a sua existência está impregnada pela Palavra de Deus. Jesus deixa de ser uma senha que abre as portas dos cofres celestiais (onde afirmam existir o outro a prata e o bronze) e passa a ser Senhor, soberano da nossa vontade, dos nossos pedidos de oração. Não sabemos orar como convém, mas o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. O Espírito milita contra carne e esta deve ser mortificada para que as nossas orações sejam santas e corretas.
Em duas situações o Senhor Jesus expressou o que deve estar em nosso coração no momento da oração. Primeiro, ao ensinar os apóstolos a orar da maneira correta, ele colocou uma ênfase na oração: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10). O que está em vista numa oração não é o que nós queremos, mas o que o Pai quer para nós. Por mais sinceras, necessárias e altruístas que sejam as nossas necessidades, todas devem estar submetidas à soberana vontade de Deus. A vontade que é feita no céu, devemos desejar para a nossa realidade terrena, entendendo que tudo repercute na eternidade. O segundo momento é na própria oração do Senhor Jesus no jardim do Getsêmani. Estando às portas da sua Paixão, Ele orou ao Pai que afastasse dele aquele cálice. Como Deus, Jesus sabia que sofrimentos terríveis o aguardavam naquela forma humana. A prisão, os açoites, o escárnio e, por fim, a sangrenta e brutal crucificação. Contudo, Ele ora: “Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).
Jesus não precisava ter passado por aquilo tudo, porque éramos nós os merecedores daquela cruz. Ele nada fez para merecer tal morte, porque é justo e verdadeiro. Ele é Deus! Mas o grande amor com que nos amou, levou-o a entregar-se a si mesmo como sacrifício por nossos pecados. Esta era a vontade de Deus que Ele veio cumprir. Enquanto Ele, o próprio Deus, fez-se maldição em nosso lugar, abriu mão da sua glória e se tornou servo dos seus servos, nós buscamos a nossa vontade, exigimos os nossos direitos às bênçãos que dizemos terem sido conquistadas para nós na cruz, decretamos a nossa vitória, profetizamos o cumprimento das promessas. Que promessas? Em que momentos dizemos: “Senhor, não seja feito como eu quero, mas como tu queres”?
A teologia neopentecostal é desprovida de base bíblica e de graça. Ela é legalista, materialista e demoníaca. O cristão genuíno, convertido ao Senhor Jesus, busca a vontade de Deus, e a sua vontade é que vivamos em amor e cumpramos os seus mandamentos. Logo, nossos pedidos de oração devem ter o amor como base: amor a Deus e ao próximo. Eles devem, também, obedecer os parâmetros bíblicos e jamais ir contra os mandamentos de Deus. A nossa oração deve estar repleta de graça e de bondade, cheia da expectativa do agir soberano de Deus. Mais que desejar ardentemente que um pedido seja atendido, o nosso coração deve ansiar por ver a vontade de Deus se cumprindo, e se alegrar nisso, porque não teremos o que a nossa mente limitada planejou, mas o que de bom, perfeito e agradável Deus tem para nós.
Quais são os frutos das nossas orações? Quem poderá saboreá-los? Que frutos temos dado? Deus cuida de nós, abençoa-nos com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo, provê-nos de tudo o que precisamos para viver (vida, ar, saúde, alimento, vestimenta, fé), dá-nos livramentos que nem sempre temos conhecimento, fortalece-nos, capacita-nos, reveste-nos de poder para pregar o seu Evangelho, enche-nos com seu Santo Espírito, santifica-nos na sua Palavra, adota-nos como seus filhos e nos destina para a eternidade ao seu lado. O que ainda mais temos a exigir? Vamos dar glória a Deus, porque Ele não atende a maioria das nossas orações. Vamos viver em santidade, em amor, servindo uns aos outros, sendo gratos por tudo, batalhando pela fé evangélica, socorrendo os necessitados. Busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, porque, de acordo com os valores desse Reino e o padrão de justiça de Deus, todas as demais coisas nos serão acrescentadas.
Amém.

Mizael de Souza Xavier

29.06.2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário